Trilha do Ouro – RJ/SP

Mais do que vencer 70 quilômetros a pé, o grande barato de atravessar a Trilha do Ouro, na Serra da Bocaina, é curtir a sensação de voltar no tempo. Além da paisagem típica da mata atlântica, o caminho, localizado entre os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, é recheado de histórias, daquelas que nos fazem sentir na época dos desbravadores do Brasil. A trilha começa na pequena cidade de São José do Barreiro, no vale do Paraíba paulista, e termina no litoral de Angra dos Reis, na vila de Mambucaba. O passeio corta o Parque da Nacional da Serra da Bocaina e requer experiência, já que pode durar de três a quatro dias, dependendo de como o viajante planeja seu trajeto. (Mapa ao fim deste post)

Como na Estrada Real, que vai de Ouro Preto à cidade do Rio de Janeiro, a Trilha do Ouro também foi usada para facilitar o transporte de minério durante o período do Brasil colonial. Diz a lenda que o percurso, aberto inicialmente pelos índios Guaianazes, passou a ser usado por bandeirantes e tropeiros como caminho alternativo à Estrada Real e acabou muito utilizado por contrabandistas de minério e café. Além da evidente beleza natural, o trajeto é famoso pelo trecho de pedras centenárias que formam uma calçada em meio à natureza. Esse pedaço ganhou o apelido de “pé-de-moleque”. Para alcançá-lo, é preciso enfrentar pelo menos um dia de trekking. Infelizmente não rola ir de bike, apenas a pé mesmo.

Para atravessar o parque, é necessário planejar o trajeto com antecedência. Dá para ir sozinho ou com uma das várias agências de turismo da região, como a MW Trekking ou a Trilha do Ouro, que oferecem guias para grupos. Os pacotes variam de preço e podem custar até R$ 650 (dependendo da forma de pagamento), incluindo translado de ida, até a portaria do parque, e de volta, do litoral até São José do Barreiro.

Caso você decida ir por conta própria, é necessário pedir uma autorização da administração do parque para transitar pelo local. O esquema é simples e pode ser feito por email, enviando dados básicos como nome, endereço, CPF e RG, número de pessoas e período que planeja ir para lá. O ICMBio é o órgão responsável, e o endereço para dúvidas e consultas é pnsb.rj@icmbio.gov.br. Com a autorização em mãos, é hora de chegar à entrada do parque, o que também requer uma breve logística.

UMA DAS MAIORES ÁREAS DE MATA ATLÂNTICA protegidas do país – 98 mil hectares –, o Parque da Nacional da Serra da Bocaina fica a cerca de 27 quilômetros de São José do Barreiro. Há quem opte por fazer essa quilometragem a pé, mas existem moradores locais que se encarregam de levar os visitantes até a portaria. “Alguns dias antes de ir para São José do Barreiro, é recomendável que o visitante entre em contato com alguém na cidade que faça o frete até a entrada do parque”, diz o gerente de projetos Hugo de Castro, um dos responsáveis por manter ativo o site Clube dos Aventureiros , que publica dicas sobre trilhas brasileiras. Hugo recomenda a ajuda de guias famosos na área, como seu Zé Pescocinho (12 3117 1368) ou o Elizer (12 99737 1787 e 12 3117 2123). O valor varia de acordo com o tipo de carro e a viagem dura em média duas horas, devido ao trajeto íngreme e cheio de buracos.

Localizada a mais ou menos 1.500 metros de altitude, o começo da trilha é cercado de araucárias típicas da região e vai paralelo ao rio Mambucaba. A caminhada é geralmente plana ou em descida, com poucas subidas. Existem várias opções de percurso, e as atrações não precisam ser visitadas em uma só ordem específica. Entre os mais famosos, está aquele no qual se vai da portaria até a cachoeira das Posses, passando pela dos Veados até terminar o passeio. Mas tem quem prefira outros trajetos.

Não longe da portaria, a cerca de 1,5 quilômetro, já dá pra apreciar a primeira cachoeira, a do Santo Izidro. Essas magníficas quedas d’água são grandes atrações da Trilha do Ouro, e curti-las é parte do passeio. Os caminhos para encontrá-las são sinalizados e com pequenas trilhas de acesso. Lá embaixo, vêem-se os 80 metros da cachoeira e uma prainha de areia branca boa para descansar.

Voltando à estrada principal, o trekking continua em meio à mata. O parque nacional é conhecido por ter uma fauna variada e algumas espécies ameaçadas de extinção, como a jaguatirica, o gato-do-mato, o tamanduá bandeira ou papagaio do peito roxo. Algumas delas certamente vão cruzar seu caminho durante a travessia. Um pouco mais adiante, outra cachoeira, a das Posses, é outra parada obrigatória. Ali perto, existem duas construções antigas que podem servir de abrigo e um gramadão perfeito para armar a barraca. É por aqui, a 8 km da entrada do parque, que a maioria dos trekkeiros faz a primeira parada ou pernoite. “Leve fogareiro e alimentos em quantidade suficiente, caso vá por conta própria. Não existe nenhuma estrutura de comida nesse trecho”, diz Fabio Paschoal, que visitou a região com um grupo de amigos. Ali perto, no km 18, a pousada Barreirinha (12 3117 2205) oferece pernoite com uma refeição (R$ 70) ou duas (R$ 80). Também conta com um quintal para quem quiser montar sua barraca e optar somente pela refeição.

SEGUIR A TRILHA DEPOIS DA CACHOEIRA das Posses leva a um percurso plano e protegido pelo sol por altos pinheiros e araucárias. A partir daí, a vegetação diminui e dá lugar a vales. “Há alguns descampados onde o gado pasta tranquilamente, sem ser incomodado. É um bom momento para parar, descansar e tirar fotos”, sugere Hugo. Próximo ao quilômetro 12, uma bifurcação divide o caminho. Siga à direita para chegar a um dos picos mais altos, a 1.500 metros de altitude. Mais adiante, no quilômetro 17, fica uma antiga capelinha rústica de madeira, com santinho e um pequeno altar.

A partir desse ponto já é possível perceber o início da calçada real, o famoso pé-de-moleque. Ele foi construído em cima de uma trilha já aberta, com pedras foram trazidas uma a uma pelos escravos desde o rio Mambucaba. Apesar de lindo, o caminho é um pouco perigoso. Espere muito lodo e escorregões, especialmente se o dia estiver muito úmido ou chuvoso. Pisar entre as pedras, e não em cima delas, é a dica de Hugo e de outros viajantes. A calçada continua até quase o fim da trilha e leva à parte mais esperada pelos visitantes: a cachoeira dos Veados.

Seguindo esse caminho, cruze o rio do Moinho por uma pinguela, atravesse um descampado cheio de araucárias e passe por uma pequenina praia. Um sítio abandonado serve de abrigo nesse ponto. Mais à frente, é necessário fazer a travessia do rio Mambucaba por mais uma pinguela, já que a trilha continua na outra margem. Vale lembrar que o volume dos rios costuma ser mais baixo no inverno, facilitando a travessia. Ali perto, há uma opção de hospedagem, a pousada dos Veados (11 3117-1192), com diárias para casal a partir de R$ 390 (incluindo café, almoço e jantar). Após a travessia, já é possível ouvir de longe o barulho da sexta maior cachoeira do país. Formada por três vias diferentes, a Veados possui mais de 200 metros de queda e grande volume de água. É um dos grandes cartões-postais da trilha.

Passando a cachoeira, são mais 18 quilômetros de perna até chegar ao fim do passeio. O caminho é uma descida que segue a calçada imperial e atravessa a divisa entre São Paulo e o Rio de Janeiro. O visual é típico da mata atlântica, com bromélias, jacarandás e jequitibás. Nesse ponto do trekking, é possível ver a cachoeira dos Veados ao longe, um visual inesquecível. Geralmente, o fim da aventura se dá na ponte do Arame. É lá onde normalmente os carros das agências marcam encontro para buscar seus clientes e guias. Caso contrário, com mais quatro horas de caminhada já dá para achar um ônibus, ou então ir andando até Mambucaba – um esforço mais que recompensador para quem decidiu conhecer de perto uma das trilhas mais bonitas do Sudeste do Brasil.

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Fonte: Go Outside

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